terça-feira, 26 de junho de 2012

Minimamente Feliz!!!

"A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.
Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.
Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir. São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.
Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.
Alguns crescem esperando a felicidade com maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos. Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular:
'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.
Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes' - Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.
Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra'quando'. Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje. Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?
Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.
Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.
Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera".
(Leila Ferreira, jornalista)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Receita Especial para Pais de Adolescentes

Pessoal, olha que coisa mais interessante! Lendo um dos meus livros, me deparei com essa receita para os pais de adolescentes, e, não tenho dúvidas de que não é simples como mostra tal receita, mas penso que podemos refletir e ter a certeza de que todo o trabalho do processo adolescente, vale à pena por aprendermos tanto com eles!
Ponha uma porção generosa de comunicação, sobretudo enquanto escuta, misture devagar com negociação participativa, freqüentes demonstrações de interesse por tudo de que o filho gosta e o ingrediente final, um monte de amor!
O cozinheiro precisa, porém, ser paciente, porque misturar os ingredientes demanda tempo, às vezes uma porção de anos, e muita disposição para relevar, rir e confiar. Rir é ingrediente essencial e por vezes pode exigir que o cozinheiro tire “uma folga” para recarregar as baterias do riso! Mas o produto final de todo o esforço vai ser absolutamente maravilhoso! Nem mesmo Michelangelo poderia ter criado obra mais extraordinária do que um adulto jovem!

Confusão Adolescencial

Talvez o maior problema de comunicação entre pais e filhos adolescentes, seja que os pais, de alguma forma, tentam impor o mesmo tipo de controle e autoridade que exerciam quando os filhos ainda eram crianças e até pré-adolescentes. Se um pai pede algo à um filho de seis anos, certamente será atendido, pois, na maioria das vezes, os pais convencem os filhos a fazerem aquilo que eles querem. Já os adolescentes questionam a tudo e a todos, e a tendência é questionar, principalmente, a autoridade paterna. Acredito que a forma de educar, ou mesmo o manejo que é feito com os filhos, que a partir de agora, será o ponto critico!
Quando se tratam de adolescentes, os pais devem ser claros, diretos, de forma a não dar margens às dúvidas!
Alguns pais precisam ser advertidos de que eles são os adultos, pois a inversão de papéis, em especial nessa fase, é muito comum, a sensação que tenho é que quando há um adolescente na família, toda a família adolesce, parece que a confusão adolescencial é tamanha, que contamina a todos!
Quando os pais se relacionam com seus filhos de igual para igual, ou atuam como amigos, em vez de como filhos, isso pode soar como falta de orientação. Os jovens já estão bastante ocupados em descobrir quem são e se são normais, em estabelecer e manter amizades, em se atualizar da moda, aprender a lidar com relacionamento amoroso e também com atração sexual. No meio de toda essa confusão, os pais precisam prover estabilidade.
É preciso que os pais expliquem não só os motivos para suas posições, mas deixem claro que amam seus filhos, verbalizar isso. É importante que sejam evitadas as expressões, como por exemplo: “vai fazer assim porque eu mandei”; “a casa é minha e quem manda aqui sou eu”; “não tenho que lhe dar explicações”, entre outros que soam de forma extremamente natural aos pais, enquanto os adolescentes sentem-se confrontados e naturalmente provocados. E por mais estranho que possa pareça, eles só precisam ser ouvidos, escutados e vistos!
Alguns pais preferem não saber o que acontece na vida dos filhos, se esquivam. Talvez reajam dessa maneira porque o assunto adolescência e o comportamento dos adolescentes podem causar muita angústia e apreensão. Penso que ignorar o que está acontecendo pode gerar conseqüências mais graves, as quais poderiam ter sido evitadas de alguma forma! É sempre melhor estar envolvido na vida dos filhos e estar por dentro desse mundo de descobertas, até porque, por mais que os adolescentes jamais vão admitir, eles necessitam e muito dos cuidados dos pais, em todos os sentidos, como orientações na carreira, administrar o próprio dinheiro, entre outros, mas nenhum assunto é mais importante do que a felicidade dos nossos filhos!
Considero de extrema importância que os pais estejam empenhados em estabelecer canais de comunicação com seus filhos. Tente trocar idéias, buscar soluções, porque o que eles querem é isso, atenção, orientação, olhar dos pais. Pode ser que no começo tenham certa resistência em conversar sobre determinado assuntos, e podem até aparentar uma surdez seletiva, mas se vocês pais insistirem, os filhos com certeza irão ceder. Quando, no consultório, converso com adolescentes, uma das maiores queixas com relação aos pais é a falta de tempo destes e a dificuldade em compreender o universo adolescente, a sensação que se têm, é como se os pais tivessem medo de entrar em contato com o processo de crescimento dos próprios filhos.
Pais que são mais ansiosos, e querem saber tudo, o tempo todo, são mais invasivos e o resultado desta atuação pode gerar grande ressentimento, e dar ao adolescente a sensação de falta de confiança. Quando se dão conta de que aquele interesse todo pelas questões do adolescente, são muito mais uma forma de controle do que de interesse pelas questões adolescenciais, se revoltam e provavelmente vão revidar na mesma moeda: perderão a confiança nos pais.
Embora a comunicação entre pais e filhos seja fundamental, permitir-lhes alguma privacidade é essencial.
Atualmente, com o bombardeio diário de noticias e informações, inversão de papéis, correria diária, muitos pais adotam o estilo de “deixa correr solto”, agem de forma impulsiva, tomam decisões precipitadamente, sem se darem conta como isso pode respingar nos filhos... Se os pais são inconstantes nas posições que assumem, conseqüentemente os filhos ficarão inseguros e sem modelo de referência, deixando-os confuso quanto como agir.
Bom, vocês devem estar se questionando, mas e aí??? O que devo fazer??? Psicólogo é muito subjetivo e não diz exatamente como devo agir! Calma! Acredito que não há uma estratégia perfeita, mas se existe, a melhor forma é viver cada dia da melhor maneira possível, na tentativa de passar aos nossos filhos, um modelo de consistência, com valores, princípios, ética e moral. Penso também que a maior preocupação dos pais deveria ser em preservar e investir na relação com os filhos. Muitas vezes isso implica em ter flexibilidade, dores de cabeça, uma combinação de estilos e ter a certeza de que lidar com adolescentes, é estar misturado e envolvido com suas confusões!


sexta-feira, 15 de junho de 2012

O estigma Hiperatividade

O transtorno de déficit de atenção / Hiperatividade, que responde pela sigla TDAH, é uma patologia pouco conhecida, difícil de detectar e fácil de confundir. Geralmente é desencadeada entre os 3 e 4 anos de idade, alcançando o nível mais critico em torno dos 6 anos de idade.

Um termo utilizado para um comportamento irrequieto, super-excitado e infeliz. Além da criança não conseguir fixar a atenção em uma atividade por mais de alguns minutos, os hiperativos sobem em móveis, falam compulsivamente, vivem perdendo material escolar e não suportam frustrações.

Lidar com um filho hiperativo é um pouco difícil, trabalhoso, pois implica em  conviver com uma criança que não responde ao que é ensinado, vive derrubando as coisas… É impossível não se irritar!

Nem toda criança agitada deve ser rotulada de hiperativa. A agitação pode ser resultado de problemas comportamentais ou manifestações de outras doenças como o autismo e até depressão infantil.

Os sintomas da criança hiperativa aparecem, no máximo, até os sete anos, sendo eles:
· Inquietude - move os pés, mãos e o corpo sem um objetivo claro. Levanta-se, salta e corre quando tem que estar sentado.
· Baixa auto-estima - devido sua impopularidade.
· Aborrecimento e excitação excessivos e incontroláveis - não consegue brincar de forma tranqüila, não respeita a vez dos outros e excita-se e se aborrece com freqüência.
· Acentuada impulsividade - age antes de pensar, responde antes que terminem a pergunta.
· Falta de concentração - não atende aos detalhes, nem à organização, nem as instruções.
· Falta de persistência - além de não terminar as tarefas, evita as que necessitam de um esforço contínuo.
· Dificuldade para organizar-se e manter a atenção.
· Distração excessiva - esquece-se do que tem que fazer. 
· Audição seletiva – uma surdez fictícia.

E acredito que o ideal para se lidar com o hiperativo, em primeiro lugar, é estabelecer limites. Também é necessário repetir a mesma instrução várias vezes sem perder a paciência e elogiar SEMPRE o que a criança faz certo. Limitar o número de brinquedos disponíveis é importante para evitar distração.

Algo que os pais devem estar atentos é quanto à preferência de copos e pratos de plástico e evitem encher a sala de enfeites ou vasos de vidro, pois quase todo hiperativo tem problema de coordenação motora.

Embora a hiperatividade não tenha cura, ela pode ser controlada com tratamento psicoterápico, prática de atividades físicas e, nos casos mais graves, medicamentos. O remédio melhora a concentração e, assim, facilita a aprendizagem das crianças hiperativas. Mas tem efeito colateral e, por isso, só deve ser usado quando a psicoterapia não for suficiente para ajudá-las a levar uma vida normal.

Os especialistas apontam que as crianças com hiperatividade não tratadas a tempo, terão problemas na adolescência, sofrerão problemas para relacionar-se e inclusive fracasso escolar. No entanto, um tratamento contínuo à medida que a criança vá crescendo, permitirá que o transtorno melhore, e inclusive que se consiga controlar.

Não se deve esquecer que os pais desempenham papel fundamental durante o tratamento. As crianças hiperativas necessitarão de muito apoio, compreensão, carinho e, sobretudo, muita paciência para que pouco a pouco consigam desenvolver seu dia-a-dia com normalidade!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Texto Pedro Bial

Olha que interessante esse texto do Pedro Bial. Estava procurando frases para começar o dia, quando me deparei com isso! E acredito que a necessidade de compartilhar com vocês é imensa, pois não é só porque temos filhos, que precisamos deixar de ser crianças, diferente do que muitos acreditam, o “mundo adulto” não é chato nem intediante, desde que não “enterramos” nosso lado mais infantil!

“TUDO O QUE HOJE PRECISO REALMENTE SABER, APRENDI NO JARDIM DE INFÂNCIA...

Tudo o que hoje preciso realmente saber, sobre como viver, o que fazer e como ser, eu aprendi no jardim de infância. A sabedoria não se encontrava no topo de um curso de pós-graduação, mas no montinho de areia da escola de todo dia.
Estas são as coisas que aprendi:
1. Compartilhe tudo;
2. Jogue dentro das regras;
3. Não bata nos outros;
4. Coloque as coisas de volta onde pegou;
5. Arrume sua bagunça;
6. Não pegue as coisas dos outros;
7. Peça desculpas quando machucar alguém; mas peça mesmo !!!
8. Lave as mãos antes de comer e agradeça a Deus antes de deitar;
9. Dê descarga; (esse é importante)
10. Biscoitos quentinhos e leite fazem bem para você;
11. Respeite o limite dos outros;
12. Leve uma vida equilibrada: aprenda um pouco, pense um pouco... desenhe... pinte... cante... dance... brinque... trabalhe um pouco todos os dias;
13. Tire uma soneca a tarde; (isso é muito bom)
14. Quando sair, cuidado com os carros;
15. Dê a mão e fique junto;
16. Repare nas maravilhas da vida;
17. O peixinho dourado, o hamster, o camundongo branco e até mesmo a sementinha no copinho plástico, todos morrem... nós também.

Pegue qualquer um desses itens, coloque-os em termos mais adultos e sofisticados e aplique-os à sua vida familiar, ao seu trabalho, ao seu governo, ao seu mundo e vai ver como ele é verdadeiro, claro e firme. Pense como o mundo seria melhor se todos nós, no mundo todo, tivéssemos biscoitos e leite todos os dias por volta das três da tarde e pudéssemos nos deitar com um cobertorzinho para uma soneca. Ou se todos os governos tivessem como regra básica, devolver as coisas ao lugar em que elas se encontravam e arrumassem a bagunça ao sair. Ao sair para o mundo é sempre melhor darmos as mãos e ficarmos juntos. É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem souber ver...”
                                                                                                                            Pedro Bial

terça-feira, 12 de junho de 2012

Porque os pais devem procurar um psicólogo?

Muitos adultos têm dúvidas sobre a necessidade de buscar psicoterapia para seu filho, embora tanto as crianças como os adolescentes, manifestem em geral comportamentos que indicam quando algo não está bem, e mesmo assim, a grande maioria dos pais relutam em procurar ajuda. Os pais tendem a pensar que a criança está passando apenas por uma fase, algo transitório, ou ainda, é comum que se sintam culpados, com receio de que a presença de um psicólogo, possa apontar que eles têm alguma responsabilidade pelo sofrimento de seus filhos.
Realmente não é fácil julgar o momento apropriado para levar um filho ao psicólogo. Muitos adolescentes solicitam aos pais a psicoterapia e, algumas crianças por ouvirem de coleguinhas, podem pedir para ver como é. No entanto, é a escola que costuma ser a primeira a perceber mudanças de comportamento e solicitar um encaminhamento para um psicólogo. Os primeiros sinais que podem ser indicativos da necessidade de um psicodiagnóstico e, conseqüentemente, a psicoterapia são: suspeita de hiperatividade, dificuldade de concentração, agressividade, comportamento inadequado, dificuldade em brincar com outras crianças, ansiedade de separação, entre outros. Estes comportamentos podem comprometer o desempenho escolar da criança e sua vida familiar.
Antes do inicio da psicoterapia, é feito o que chamamos de psicodiagnóstico, que nada mais é do que um processo de conhecimento, onde são realizadas entrevistas com os pais, com o objetivo de conhecer o histórico da criança e/ou adolescente e o ambiente no qual está inserido, visto que, trabalhar com crianças e adolescentes, é trabalhar com a família também! O psicólogo utiliza recursos lúdicos para compreender os sentimentos, angústias e fantasias que a criança expressa através das brincadeiras, e no caso do adolescente, além de conversas, também pode ser utilizado jogos ou qualquer recurso lúdico que o adolescente preferir. Após o psicodiagnóstico, é feita a devolutiva, onde é exposto aos pais o que o psicólogo pode observar quanto à realidade interna do paciente e então é proposto o que pode ser trabalhado, que é o que chamamos de psicoterapia. Iniciado o processo com a criança e/ou adolescente, as sessões ocorrem nos dias e horários estipulados, com duração de quarenta e cinco minutos. Além disso, ao longo do processo psicoterápico, são realizados encontros periódicos com os pais.
São vários os motivos que levam os pais a buscarem atendimento psicológico para seus filhos. Dentre os sintomas e queixas mais comuns (expressas pelos pais) podemos listar: dificuldades de aprendizagem; enurese ou ecoprese diurna ou noturna; pesadelos; dificuldades para dormir; distúrbios alimentares; agressividade; hiperatividade, atrasos no desenvolvimento motor (atrasos para falar, andar, etc.)
Contudo, nem todos os conflitos da criança merecem acompanhamento de um psicólogo, mas se seu filho demonstrar necessidade de ajuda, não se sinta impotente! Você deve consultar um psicólogo, o qual poderá determinar se as dificuldades apresentadas por ele necessitam ou não de uma intervenção. Em alguns casos, o problema pode ser superado apenas com uma orientação aos pais e professores, ou, com uma breve psicoterapia.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Olha que interessante os trechos do livro "O Arroz de Palma" de Francisco Azevedo. Vale à pena ler e acredito que mais interessante ainda, é avaliar e refletir sobre a família que fazemos parte ou sobre o desejo de constituirmos a nossa própria família!
"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema... Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir... Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente... Já estão aí? Todos? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto: é um verdadeiro desastre.
Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada. O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Manière; Família ao Molho Pardo (em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria).
Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.
Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir. Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."